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domingo, 21 de maio de 2006

Mães e Filhos


“ Amor demais não atrapalha.
Um filho rejeitado
Nunca conserta a cabeça.
Um superprotegido
Tá limpo.”

Cazuza
LUCINHA ARAÚJO,
mãe de Cazuza

“ O lado positivo de ter tido um único filho foi que, quando ele precisou de mim, eu pude me dedicar muito mais a ele. Cazuza era muito egoísta, queria tudo para ele. O pai era só dele, a mãe era só dele. Ele não dividia nada com ninguém, nem o palco.
[...]
Até os 14anos Cazuza foi um menino padrão, criado do jeito que eu queria...
Aí ele foi crescendo. Era tão tímido que eu mandava que ele fosse para a rua, brincar com os amigos, andar de bicicleta. Cazuza lia o dia inteiro...
Demorei a descobrir que Cazuza era uma pessoa especial. Fiquei chocada quando ele começou a ter idéias próprias.
[..,]
O pior momento para mim foi quando descobri que meu filho era um ser humano independente. Que eu podia morrer e não ia fazer falta. Foi uma constatação dolorosa.
Hoje sei que aprendi muito mais com ele do que ele comigo. Quando resolvi entrar na dele, eu fui muito mais feliz...
[ ...]
...Um dia resolvi perguntar à queima-roupa pra ele:”Cazuza, meu filho, você é homossexual?” Ele respondeu:”...Eu ainda não fiz a minha escolha...”
Fiquei muito chocada. Eu tive que dar a volta por cima, virar outra mulher, senão eu perdia meu filho. Se eu fosse lutar contra o desejo dele, não ia dar certo.
...” Pode fazer o que quiser da sua vida que estarei sempre do seu lado”. E foi assim até ele morrer.
Aprendi tudo na vida com meu filho. Principalmente depois que ele ficou doente. Foram sete anos de convivência com a AIDS. Primeiro aprendi com a coragem dele...
Aprendi com ele também a não me importar com o que os outros acham de você...
[...]
Acho que a homossexualidade do Cazuza era mais um ato de rebeldia do que qualquer outra coisa. O Cazuza era sempre do contra...
[...]
A minha narrativa ( Só as mães são felizes) não pode ser vista como uma biografia, porque mãe não tem distanciamento suficiente para escrever a biografia de um filho.A minha intenção foi descrever o relacionamento muito intenso entre uma mãe e um filho, e as lições que aprendi tendo um filho homossexual...”
Lucia Rito. É a Mãe!:
visões sobre a figura materna.
Rio de Janeiro: Record, 1998.
Como é difícil ser mãe de um adolescente! Penoso aceitar a necessidade de liberdade e independência, fundamentais para o crescimento emocional do ser humano. É preciso ter coragem para enfrentar as mudanças nesses novos tempos.
Lembro-me então de Gibran: “Vossos filhos...podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos...” Nossa experiência não conta, é necessário VIVER.
Sempre releio esse livro de Lucia Rito, jornalista e autora de biografias. Há depoimentos de mães famosas ou não, filhos e filhas, mitos, poemas, trechos de romances, de peças teatrais, de filmes, reflexões etc. Em suma, variações sobre o mesmo tema: a relação mãe e filhos, suas dores, saudades e descobertas. Selecionei Cazuza e trechos do depoimento de Lucinha Araújo.
Penso que “autonomia é necessária, mas o amor é fundamental”.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Liberdade


13 de maio da Juventude Negra


Treze de Maio que não é mais de preto velho
do pai João, da mãe Maria
do negrinho do pastoreio

Treze de maio que não é mais
do misticismo, da “simpatia”, do "despacho”.
Treze de Maio da Juventude Negra
lutando por outra libertação
ao
lado da Juventude Branca
contra os senhores capatazes
capitães-do-mato
que permanecem vivos
cometendo os mesmos crimes
as mesmas injustiças
as mesmas desumanidades...

Treze de maio dos poetas conscientes...

Trindade, Solano. Tem Gente com
Fome e
outros poemas.DGIO, Rio de
Janeiro,1988.


Nosso país foi o último a abolir a escravidão. Que vergonha! Pudera, sempre atrasado em tudo. Enquanto a fome, a injustiça e a discriminação são denunciadas diariamente na mídia, fazemos o mesmo e esperamos que o poder instituído resolva tudo. A luta de Solano, nosso maior poeta negro, deveria ser a nossa luta.

domingo, 7 de maio de 2006

Trabalho

Cândido Portinari


Trabalhar


Trabalhar pode realmente enobrecer o homem, como garante o adágio, mas não se deve procurar endosso na origem etimológica do verbo, nem na Bíblia. Trabalhar vem do latim vulgar tripaliare, que significa nada mais nada menos que “torturar, martirizar”. E tripaliare provém do nome do instrumento de tortura composto de três paus que se chamava tripalium, relacionado com tri-(três), e paulus (pau). Da idéia inicial de “sofrer, padecer”, o verbo tripaliare passou a incorporar as noções de “batalhar, lutar esforçar-se”, acabando por agregar também as acepções de “operar, executar tarefas, exercer um ofício, uma atividade, em suma, “trabalhar”. Desde a mais alta Antigüidade, o trabalho - quase todo realizado em condições adversas - era visto como um sacrifício, um martírio, o que acabou transparecendo até no Velho Testamento. Deus teria criado o trabalho não como uma atividade nobre, e sim como um castigo para o homem, pelo fato de desobedecê-Lo, comendo do fruto proibido. Adão foi expulso do Paraíso e ouviu de Deus a sentença: “ Maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dia de sua vida.”

BUENO, Márcio. A Origem Curiosa das Palavras.
José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 2003.

Muito interessante este livro do Márcio Bueno, jornalista e publicitário.
Escolhi esta palavra por perceber que a insatisfação, o cansaço, a opressão velada, a alienação, a falta de oportunidade e a perda de identidade do trabalhador brasileiro não permitem que esboce reação.
Quem trabalha precisa , no mínimo, de realização pessoal e liberdade.
E quem não trabalha, meu Deus, como continua vivendo?
Será que dá para ser feliz?

Tarsila do Amaral

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