“ Amor demais não atrapalha.
mãe de Cazuza
“ O lado positivo de ter tido um único filho foi que, quando ele precisou de mim, eu pude me dedicar muito mais a ele. Cazuza era muito egoísta, queria tudo para ele. O pai era só dele, a mãe era só dele. Ele não dividia nada com ninguém, nem o palco.
[...]
Até os 14anos Cazuza foi um menino padrão, criado do jeito que eu queria...
Aí ele foi crescendo. Era tão tímido que eu mandava que ele fosse para a rua, brincar com os amigos, andar de bicicleta. Cazuza lia o dia inteiro...
Demorei a descobrir que Cazuza era uma pessoa especial. Fiquei chocada quando ele começou a ter idéias próprias.
[..,]
O pior momento para mim foi quando descobri que meu filho era um ser humano independente. Que eu podia morrer e não ia fazer falta. Foi uma constatação dolorosa.
Hoje sei que aprendi muito mais com ele do que ele comigo. Quando resolvi entrar na dele, eu fui muito mais feliz...
[ ...]
...Um dia resolvi perguntar à queima-roupa pra ele:”Cazuza, meu filho, você é homossexual?” Ele respondeu:”...Eu ainda não fiz a minha escolha...”
Fiquei muito chocada. Eu tive que dar a volta por cima, virar outra mulher, senão eu perdia meu filho. Se eu fosse lutar contra o desejo dele, não ia dar certo.
...” Pode fazer o que quiser da sua vida que estarei sempre do seu lado”. E foi assim até ele morrer.
Aprendi tudo na vida com meu filho. Principalmente depois que ele ficou doente. Foram sete anos de convivência com a AIDS. Primeiro aprendi com a coragem dele...
Aprendi com ele também a não me importar com o que os outros acham de você...
[...]
Acho que a homossexualidade do Cazuza era mais um ato de rebeldia do que qualquer outra coisa. O Cazuza era sempre do contra...
[...]
A minha narrativa ( Só as mães são felizes) não pode ser vista como uma biografia, porque mãe não tem distanciamento suficiente para escrever a biografia de um filho.A minha intenção foi descrever o relacionamento muito intenso entre uma mãe e um filho, e as lições que aprendi tendo um filho homossexual...”
visões sobre a figura materna.
Rio de Janeiro: Record, 1998.
Lembro-me então de Gibran: “Vossos filhos...podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos...” Nossa experiência não conta, é necessário VIVER.
Sempre releio esse livro de Lucia Rito, jornalista e autora de biografias. Há depoimentos de mães famosas ou não, filhos e filhas, mitos, poemas, trechos de romances, de peças teatrais, de filmes, reflexões etc. Em suma, variações sobre o mesmo tema: a relação mãe e filhos, suas dores, saudades e descobertas. Selecionei Cazuza e trechos do depoimento de Lucinha Araújo.
Penso que “autonomia é necessária, mas o amor é fundamental”.