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sábado, 13 de setembro de 2008

Fausto Wolff


Acompanhava as crônicas do Fausto Wolff aos domingos no Jornal do Brasil. Embora divergisse em alguns pontos, nutria admiração pelo irreverente escritor e jornalista. Combateu o cinismo dos poderosos e defendeu suas idéias até o fim.

“Com todo mundo saudável, inteligente, culto, com um emprego, um teto, uma roça, acabaríamos com a ansiedade, com a fome e a violência. Temos um país faminto de quase 200 milhões de pessoas. Isto não faz sentido.”

Acompanhem alguns trechos de suas crônicas e sigam os links se quiserem ler na íntegra.
A que mais gosto é a que li no Blog do Galeno porque fala do hábito perdido no Brasil de contar histórias. Na ocasião, enviei um comentário ao Fausto. Nunca ficarei sabendo se ele leu. Só recentemente descobri seu site oficial: O Lobo.
Será que está uivando lá no céu? Tomara!
Fausto Wolff - Querem ouvir uma história?

Quando escrevi meu livro "A milésima segunda noite ou História do mundo para sobreviventes" informei que gostaria que ele fosse lido do princípio ao fim. Enquanto o escrevia, tal qual António Sábato e Julio Cortazar, vivia cercado de fantasmas que queriam dar palpites. Por outro lado, talvez seja melhor que os leitores decidam como lê-lo. Deste modo todos terão seu próprio livro. Cabeça de leitor é singular. Às vezes certas passagens - que o autor sofreu para pôr no papel e que lhe agradam profundamente - passam despercebidas. Outras, para as quais o autor não deu maior atenção, recebem maior atenção e são até
citadas em jornais.
Como Paulo Rónai, amo histórias, principalmente as que me são contadas. Sócrates só acreditava em cultura oral, pois era explícita e contava com o talento do narrador. Achava que uma vez escritas, ficariam à mercê de interpretações medíocres. Felizmente, Platão, aparentemente, estava lá, para tomar nota das palavras do mestre...
Fausto Wolff - A força da verdade

Alugo DVDs e eventualmente encontro filmes bons americanos. A maioria deles, com ajuda do controle remoto, vejo em 15 minutos. Passam-me a impressão de que foram escritos por adultos retardados para crianças psicopatas...Outro dia, porém deparei-me com uma obra de arte: Boa noite, boa sorte, dirigido por George Clooney...

Fausto Wolff - Dinossauros de Gutenberg

Todas as semanas me encontro com alguns amigos dinossauros jornalistas. O objetivo é beber até a morte. Quando a morte não vem, o mais sóbrio carrega os sobreviventes para as respectivas casas. Embora bem-sucedidos, respeitados na sociedade e até queridos por seus subalternos, os outros quatro sentem o mesmo que eu. Uma sensação de que nosso dever não foi cumprido; que, se Deus existir, no dia em que nos apresentar a fatura não teremos como provar que fizemos o humanamente possível. Sonhei que Tupã diria:
- Como humanamente possível? Vocês se destruíram antes de se tornarem humanos. Mataram-se uns aos outros por causa de papel colorido quando ainda estavam em fase de evolução ao humanismo.
Gostaria de poder dizer isso a Lula e seus ministros e líderes, mas eles não ouvem ninguém e estão certos (estarão certos, mesmo?) de que carregam a justiça no bolso. Se me escutassem, gostaria de dizer-lhes que eu e meus amigos jornalistas dinossauros chegamos à conclusão de que se ele e sua equipe houvessem ficado em casa depois da posse; se houvessem colocado um contador em cada órgão e uma comissão policial rotativa para evitar o roubo, estaríamos todos no lucro, até o FMI...
Fausto Wolff - A última crônica

Descobri há pouco que nunca fui alcoólatra. Conheço poucos jornalistas tão responsáveis como eu. Desde os 14 anos a reportagem solicitada estava na hora na mesa de Candiota, mal-humorado secretário de redação do velho Diário de Notícias, um dos primeiros jornais de Chateaubriand. Geralmente, meus textos iam para a "cesta" página, ou seja, onde morrem as ilusões. "Cesta" página ou não, que orgulho ser repórter! Sei que não sou alcoólatra porque passei um ano e meio sem beber, sem sinais de insuportável abstinência. A sobriedade tem seus valores. A vida, porém, tornou-se mais chata e os amigos estão emburrecendo cada vez mais.
Isso é quase um axioma: mulheres, quando se encontram, só falam de homens e mal de outras mulheres. Passei um ano e meio mal-humorado, mas não tive grandes crises, se descontarmos aquela vez em que bati sete vezes com a cabeça contra a parede de cimento. Senti-me um outro homem e as pessoas que passavam pela minha janela, também, diante daquele ser que parecia fazer propaganda para a película A múmia, versão com cheiro.
Os jornalistas mudaram muito. A maioria agora usa saia e quando você lhes pede conselhos dizem coisas como "mas é claro que assim não dá. Teu CTRL não se entende com teu DEL, o que cria sérios problemas de wurtmilsaltrzon para o DESK. Você parece criança". Desliguei e rezei para Santa Monique, a rainha dos renegados. Estou pensando seriamente em voltar para a máquina de escrever...
Para concluir, o cartunista Latuff e o jornalista Mário Augusto Jakobskind apresentam: "O Vietnã de Fausto Wolff". Rodado inteiramente no interior de um boteco no centro do Rio.

3 comentários:

Alessandra Roscoe disse...

Fátima, Tudo bem aí na cidade maravilhosa? Olha, passe lá no blog, tem uma surpresinha pra você!
http://contoscantoseencantos.blogspot.com
Beijos

Anônimo disse...

Oi, Fátima

Teu blog é tão rico que não poderia deixar de fora deste prêmio. Passa lá em meu blog para conferir e aumentar a rede.

Bju

Adriane disse...

Oi Fátima!
Você perguntou como fazia para ter acesso ao ambiente onde estão os tutoriais: é um ambiente moodle usado naquele curso que eu falei, mas ele é aberto para visitantes. Se em alguma hora o sistema pedir senha, escolha a opção visitante.
No blog tb já tem os pdf em cc.

Abs
Adriane

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