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domingo, 9 de março de 2008

Mulher



Eu sou uma mulher

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.

Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.

Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho-d'água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.

Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.

O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.

O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.


Marina Colasanti
Rota de Colisão.
Editora Rocco.

Este é o presente-poema que recebi ontem do Francisco Gregório Filho na Oficina de Contadores de Histórias e repasso para todas as mulheres.Encontrei esse vídeo e nele a escritora recita o poema. Assistam. Abraços.

Um comentário:

Fátima Franco disse...

Fatinha:
obrigada pela visita. Adorei sua adaptação do poema da Cecília, ai abaixo.É isto mesmo, né? Não dá para ser mulher maravilha( bem que eu queria).
E o vídeo da Marina Colasanti é tudo de bom.Ela é sensacional.
Bjs

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