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sábado, 13 de março de 2010

A Mulher e o Mar


Inscrição

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.

Sophia de Mello Breyner Andersen




Esses versos de um poema de Sophia de Mello Breyner Andersen refletem sua intensa relação com o mar. Eu diria que esta é Sophia: a mulher e o mar. E ainda me atrevo a dizer que sou eu. Em algumas ocasiões, deixei claro que preciso do mar para me sentir renovada.
O meu primeiro contato com a escritora foi através da literatura infantil. Tenho uma edição bem antiga de A Fada Oriana. A poesia veio mais tarde e me encantou. Escolhi algumas para leitura e apreciação.





Eis-me

Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)


















Com Fúria e Raiva






Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

Fonte: Citador

Biografia

Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar, no vento.

"No Tempo Dividido e Mar Novo",
1985: 82






Fonte: Mulheres

Um comentário:

Eliana Ribeiro disse...

Intensa seleção de poemas. Também preciso do Mar para lavar meus dissabores e refrescar minh'alma.

beijokk

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