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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Orelhas de mariposa!


Mara tem orelhas de abano e é vítima de chacota das outras crianças. No entanto, tem uma mãe incrível. Ela lhe diz que tem orelhas de borboleta, “...orelhas que giram no ar e colorem as coisas feias.”

A partir daí, a personagem tem sempre uma resposta interessante na ponta da língua.


“- Mara só lê livros usados!

- Não!

- É que mais de mil mãos já os acariciaram.”

Luisa Aguilar escreveu e André Neves ilustrou com olho de criança curiosa e sensibilidade de artista de primeira grandeza. Do original “Orejas de Mariposa” (Kalandraka), o livro já foi traduzido em oito linguas. E hoje, 15 abril, dia do desenhista, presto minha homenagem a este ilustrador e escritor pernambucano, de sotaque gostoso e sonoro, que escolheu Porto Alegre para viver e criar.

Reconheço suas figuras humanas pelos narizes, talvez porque aprecie “cheiros”. e ainda tenha o olhar distraído.


Como, para cada história lida, se deve contar outra...

Guardo esta história num cantinho escondido do coração há algum tempo.

Não tive coragem de falar sobre ela até que eu pudesse fazer o caminho de volta à infância para retornar plena e leve.

Não tive a sorte de Mara porque todos riram de mim.

Sempre fui pequena e magricela, por isso, recebia todos os apelidos usados naquela época, mas não ligava.

Não possuíamos máquina fotográfica. Quando o vizinho aparecia com uma, era uma festa.Vamos tirar retrato? E eu pedia que esperassem porque eu ia me vestir. E lá vinha eu de biquíni e boneca na mão. Precisavam ver as poses.

Crianças zombeteiras são comuns e a tristeza pode permanecer e marcar a pessoa para sempre.

Certa vez, passeava pelo lago da Quinta da Boa Vista. Vestia uma sainha de fustão branco e observava as garças. Passava por ali um rapaz com sua namorada. Ele soltou esta: “Veja só as pernas dela. Está olhando para si mesma!”

Até hoje não gosto de usar saias e vestidos.

Se eu conhecesse a mãe de Mara, certamente diria: Sim, sou tão graciosa, elegante e livre como elas!”

Tenho lido este livro para as crianças lá da escola. Como riem e se vingam com as réplicas inteligentes de Mara! Depois, partimos para a conversa sobre as imperfeições de cada um. Pergunto se alguém já se sentiu magoado com um apelido maldoso. Alguns se expõem., outros calam. Combinamos pensar no assunto e criar uma resposta criativa para usar quando alguém quiser nos machucar.

Autoestima é coisa séria. Fiz as pazes com minhas canelas!

3 comentários:

Suzana Gutierrez disse...

Oi guria

Li este teu post hoje, pouco tempo depois de ter visto isso: http://www.youtube.com/watch?v=j15caPf1FRk

Não deixa de assistir este vídeo.

abração!

Ana Miranda disse...

Muito bom. Obrigada.Adorei a dica. Bjks.

Lou Vilela disse...

Fátima, adoro visitar sua casa! As suas indicações são ótimas e as suas peripécias sempre me arrancam um sorriso.

Na infância, enfrentamos poucas e boas... mas observo que aproveitou da melhor forma possível os encontros e desencontros daquela época para a formação dessa essência que você expõe - e encanta!

Um abraço,
Lou

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