Marcha
Cecília Meireles
As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebram as formas do sono
com a idéia do movimento.
Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.
Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.
Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.
Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.
Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento.
Escolhi, para a blogagem coletiva proposta pela Leonor Cordeiro no blog Na Dança das Palavras, o poema Marcha entre tantos que li e reli de Cecília Meireles nestes últimos dias. Poesia precisa ser divulgada porque todo mundo gosta, mas quase ninguém compra a não ser que seja cantada. É verdade! Poetas publicam seus poemas na Internet e livreiros não se interessam em publicá-los. Muitos versos de poetas famosos são musicados por artistas e só depois se descobre de quem são! Conheci uma estrofe de Marcha através da música Canteiros de Raimundo Fagner. Assim acontece com muitos leitores ou não-leitores. Chegam ao texto literário por outros caminhos. Se quiserem saber da questão judicial sobre direitos autorais e do acordo depois de longos anos, acessem o site do cantor. O poema Motivo também foi cantado, porém parece que não houve entendimento. Acredito que é possível plantar sementes de poesia em canteiros diversos.! Tudo é plágio. Processo virou profissão. Inadmissível é escrever um texto e atribuir autoria a outro, famoso, como temos visto na rede. Até paródia tem ido aos tribunais. Inocentemente, quando abri este blog, pensei que pudesse sair publicando textos de autores variados como se fossem de domínio público. Depois que soube que tinha que pedir autorização aos escritores, herdeiros e editoras, quase desisti de levar adiante histórias essenciais à formação de leitores. Atualmente, isto aqui virou um ninho...Não é que gostei desta imagem!
Cecília Meireles
As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebram as formas do sono
com a idéia do movimento.
Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.
Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.
Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.
Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.
Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento.
Escolhi, para a blogagem coletiva proposta pela Leonor Cordeiro no blog Na Dança das Palavras, o poema Marcha entre tantos que li e reli de Cecília Meireles nestes últimos dias. Poesia precisa ser divulgada porque todo mundo gosta, mas quase ninguém compra a não ser que seja cantada. É verdade! Poetas publicam seus poemas na Internet e livreiros não se interessam em publicá-los. Muitos versos de poetas famosos são musicados por artistas e só depois se descobre de quem são! Conheci uma estrofe de Marcha através da música Canteiros de Raimundo Fagner. Assim acontece com muitos leitores ou não-leitores. Chegam ao texto literário por outros caminhos. Se quiserem saber da questão judicial sobre direitos autorais e do acordo depois de longos anos, acessem o site do cantor. O poema Motivo também foi cantado, porém parece que não houve entendimento. Acredito que é possível plantar sementes de poesia em canteiros diversos.! Tudo é plágio. Processo virou profissão. Inadmissível é escrever um texto e atribuir autoria a outro, famoso, como temos visto na rede. Até paródia tem ido aos tribunais. Inocentemente, quando abri este blog, pensei que pudesse sair publicando textos de autores variados como se fossem de domínio público. Depois que soube que tinha que pedir autorização aos escritores, herdeiros e editoras, quase desisti de levar adiante histórias essenciais à formação de leitores. Atualmente, isto aqui virou um ninho...Não é que gostei desta imagem!
Canteiros : Fagner
Baseado no poema “Marcha” de Cecília Meireles
Com música incidental “Águas de Março” de Antonio Carlos Jobim e “Na hora do almoço” de Belchior.
Baseado no poema “Marcha” de Cecília Meireles
Com música incidental “Águas de Março” de Antonio Carlos Jobim e “Na hora do almoço” de Belchior.
Veja no Blogstórias Digitais o poema Elegia a uma pequena borboleta gravado pela própria Cecília Meireles.
2 comentários:
Menina,
pesquisando sobre essa poesia Mracha, achei o seu blog e gostei muito.
Olha, eu nem sabia sobre o que aconteceu em relação do cantor Fagner.Teve uma senhora que só faltou pedir para que eu retirasse o post e fizesse outro.
Daqui a pouco, amanhã farei um post esclarecedor que está no automático.
Mas uma coisa é certa:nunca mais particpo de blogagem coletiva, agora é de vez.
Um abraço e tudo de bom, beijos.
p.s.:no meu post vai ter tudinho, com direito a lei e tudo, foi em 1979.
apareça por lá sempre quando puder ou quiser, um abraço.
Querida Fátima,
Não preciso dizer que recebervocê e minhas queridas amigas do Blogs Educativos na blogagem coletiva é uma grrrraannnde alegria.
AMO VOCÊS !!!!
Muitíssimo obrigada por participar da blogagem e pela bela postagem que escreveu.
Uma das coisas boas das blogagens é a variedade de poemas e crônicas que foram escolhidas, perceber diferentes olhares em relação a poeta homenageada, encontrar opiniões diferentes relacionadas a um determinado assunto.
A questão do "caso Fagner" apareceu em várias postagens.
Concordo com você sobre a importância da divulgação da poesia que pode acontecer por diferentes caminhos como o da música.
Canteiros divulgou o poema Marcha mesmo para aquelas pessoas que não sabiam que versos de Cecília estavam presentes naquela linda canção. Mas Fagner errou quando em 1973 lançou o elepê e não comentou em nenhum momento que Cecília estava presente em sua letra (literalmente presente). Errou quando não citou a poeta. Errou quando não pediu autorização da família.
Hoje tudo está resolvido mas sou CECÍLIA em primeiro, em segundo, em terceiro e quarto lugar.
Versos de Cecília sempre com os devídos créditos !
Fátima, Fátima, Fátimaaaaaaa!!!!
OBRIGADA!OBRIGADA!OBRIGADA!OBRIGADA!OBRIGADA!OBRIGADA!
Um caminhão carregadinho de beijinhos e abraços para você !!!
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