"A Sentença já foi proferida. Saia de casa e cruze o Tabuleiro pedregoso. Só lhe pertence o que por você for decifrado. Beba o Fogo na taça de pedra dos Lajedos. Registre as malhas e o pêlo fulvo do Jaguar, o pêlo vermelho da Suçuarana, o Cacto com seus frutos estrelados. Anote o Pássaro com sua flecha aurinegra e a Tocha incendiada das Macambiras cor-de-sangue. Salve o que vai perecer: O Efêmero sagrado, as energias desperdiçadas, a luta sem grandeza, o Heróico assassinado em segredo, O que foi marcado de estrelas - tudo aquilo que, depois de salvo e assinalado, será para sempre e exclusivamente seu. Celebre a raça de Reis escusos, com a Coroa pingando sangue; o Cavaleiro em sua Busca errante, a Dama com as mãos ocultas, os Anjos com sua espada, e o Sol malhado do Divino com seu Gavião de ouro. Entre o Sol e os cardos, entre a pedra e a Estrela, você caminha no Inconcebível. Por isso, mesmo sem decifrá-lo, tem que cantar o enigma da Fronteira, a estranha região onde o sangue queima aos olhos de fogo da Onça-Malhada do Divino. Faça isso, sob pena de morte! Mas sabendo, desde já, que é inútil. Quebre as cordas de prata da Viola: a Prisão já foi decretada! Colocaram grossas barras e correntes ferrujosas na Cadeia. Ergueram o Patíbulo com madeira nova e afiaram o gume do Machado. O Estigma permanece. O silêncio queima o veneno das Serpentes e, no Campo de sono ensangüentado, arde em brasa o Sonho perdido, tentando em vão reedificar seus Dias, para sempre destroçados."(Romance d'A Pedra do Reino - Livro III - Folheto XLIV - A Visagem da Moça Caetana)
Inúmeras vezes já deixei clara a minha preferência por temas populares na literatura brasileira. Ariano Suassuna torna universal a riqueza dos mitos, mistérios e revelações da cultura nordestina ao desenvolver, com extrema habilidade narrativa e poética, temas essencialmente humanos como vida e morte, sagrado e profano, justiça e injustiça.
Inúmeras vezes já deixei clara a minha preferência por temas populares na literatura brasileira. Ariano Suassuna torna universal a riqueza dos mitos, mistérios e revelações da cultura nordestina ao desenvolver, com extrema habilidade narrativa e poética, temas essencialmente humanos como vida e morte, sagrado e profano, justiça e injustiça.
Outras informações no blog Literatura Cearense da Prof. Aíla Sampaio aqui.
Tornar conhecida a obra de Ariano Suassuna é um passo para a valorização da cultura brasileira. Foi exatamente isso que fez, sem querer, meu amigo professor de Biologia durante o conselho de classe de hoje. Detentor de uma memória prodigiosa e vasta cultura, rabiscou o trecho em destaque, ilustrou e deixou em minha mesa. Indaguei de quem eram os “versos”, E ele: “São de Suassuna.” Sonoridade até na resposta! Estou achando meio macabro, pois culturalmente ainda não abandonei as superstições, mas...a cruz é meu guia.
Leia abaixo trechos da aula-espetáculo, uma das etapas do ciclo de palestras realizado pela Tribuna Livre do Departamento Cultura da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro em maio do ano passado(antes tarde do que nunca). Para saber mais clique aqui.
"Não existe comunidade que não tenha arte. O problema do homem da caverna é estético, do mesmo jeito que o nosso."
"Quando li 'Os Irmãos Karamazov', de Dostoiévski, encontrei uma frase que foi decisiva para mim. Lá estava escrito que se Deus não existisse tudo era permitido. Eu achava que nem tudo era permitido, então pensei, isso quer dizer que Deus existe. "
"Eu acho que existem, na alma humana, dois hemisférios: o 'hemisfério Rei' e o 'hemisfério Palhaço'. No 'hemisfério Rei', eu coloco tudo o que há de mais elevado e nobre. Se a pessoa exarcerbar o 'hemisfério Rei', ela cai numa excessiva crueldade, torna-se uma pessoa autoritária. Um rei com Felipe II não tinha nada de 'hemisfério Palhaço' - e chegou a matar o próprio filho por causa da disputa de poder, uma mostruosidade. É o 'hemisfério palhaço' que equilibra o 'hemisfério rei', e isso se dá através do riso."
É ou não é um GÊNIO este Suassuna?
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