Literatura Oral
“O contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo nos apresentando um outro tempo”.
“O contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo nos apresentando um outro tempo”.
Cléo Busatto
Na minha casa, o único livro era a Bíblia Sagrada. Mesmo assim, as histórias estavam lá na voz da minha mãe e nas imagens que eu criava. Eram contos e “causos” que meu avô contava ao anoitecer, depois da ceia. Ele deitava na rede e a filharada nas esteiras, nos meses em que passavam na casa da salina do Flamengo. Com saudades , ela recordava e narrava essas e outras das viagens de canoa pelo Rio São Francisco.
Sempre valorizei minhas raízes e, a cada Bienal ou Salão do Livro, enchia as prateleiras da escola onde trabalhava de livros de folclore. Quando levei o projeto “De Mala e Cuia” do Museu do Folclore para lá, fiquei perdidamente apaixonada pela literatura oral. Foi um caminho sem volta, ainda bem!
Conhecemos a importância do trabalho de Luís Câmara Cascudo, de Silvio Romero e de tantos outros escritores que, ainda hoje, coletam e registram contos da tradição oral através da escrita ou de outras tecnologias. Sabemos que são histórias do imaginário popular que se perpetuaram através da voz dos contadores de histórias. Ler Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa de Cléo Busatto foi muito importante para confirmar minhas idéias a respeito do tema e realizar grandes descobertas. Para ela, “o conto de literatura oral é uma das mais genuínas expressões culturais da humanidade...Saber da sua provável origem mostra-se apenas uma curiosidade, porque o conto se molda ao contexto onde ele é narrado e vai se adaptando às cores e aos tons de cada povo, de cada contador que o narrou...mas sua essência continuou inalterada. O conto de tradição oral é um retrato da magia e do encantamento, uma fantástica criação da mente humana.”
Ao ler, há três anos, Como e por que ler os clássicos universais desde cedo de Ana Maria Machado, lancei o projeto “Teia de Histórias” que, a cada ano letivo, destaca um tema, época, autor, título ou tipo de história. Sabem por onde comecei? Pelas histórias de menor prestígio: os contos de fadas e as fábulas.
Sabia que “ ... no início do século XX, Milman Parry revelou ao mundo que a Ilíada e Odisséia, de Homero, considerados a primeira literatura escrita do Ocidente, eram na verdade, originalmente, poemas orais, e que foram transcritos para a escrita “em algum ponto entre 700 e 550 a,C.” (Havelock).”
Mas descobrir que, entre outros clássicos citados no livro de Cléo Busatto, “...Romeu e Julieta, de Shakespeare (1564-1616), tem a mesma temática do antigo conto grego Píramo e Tisbe, que por sua vez tem origem oriental (Calvino, 2000)... registrado por Ovídio, poeta italiano nascido por volta do ano 42 a.C. “, deu-me um gostinho de vitória diante das críticas daqueles que equivocadamente dão importância apenas à literatura escrita.
Acredito que não há país com tanta diversidade étnica e cultural quanto o nosso. No entanto, pouco tem sido feito para valorizar essa pluralidade.O preconceito é nítido, mas as camadas populares ainda resistem, principalmente quando residem fora das grandes cidades. Precisamos compreender que narrar mitos e lendas do nosso povo é muito mais do que mostrar nossa maneira de ver o mundo, é “reconhecer a nossa complexidade e colaborar para a erradicação de preconceitos” (Busatto, 2003).
“O nosso acervo de literarura oral não tem a devida atenção que merece, não é considerado pelo que é, ou seja, um patrimônio de cultura e sabedoria, legado pelas tantas etnias responsáveis pela formação da raça brasileira” , acentua Cléo Busatto.
Garantir espaços para a tradição oral nas escolas, praças, feiras de livros e universidades é fundamental no processo de reconstrução da identidade cultural e da memória desse nosso Brasil desigual, porque ...
“Narrar um conto implica em se apropriar dos seus símbolos, e isto é mais do que importante, é essencial. Vivemos num momento árido, povoado de imagens vazias, destituídas de significados, e resgatar significados é imprescindível para a nossa existência”(Busatto, 2003).
Continuo tecendo os fios da Teia, agora com o projeto “No balanço das histórias”, remetendo a todos os que contaram histórias no embalo das cadeiras de balanço, das redes e aos que hoje insistem em encantar e resgatar a oralidade usando também a mídia. O importante é reinventar o tempo e o espaço, tentar e acreditar que “a vida é sonho e os sonhos, sonhos são”(Calderón de La Barca).
Sempre valorizei minhas raízes e, a cada Bienal ou Salão do Livro, enchia as prateleiras da escola onde trabalhava de livros de folclore. Quando levei o projeto “De Mala e Cuia” do Museu do Folclore para lá, fiquei perdidamente apaixonada pela literatura oral. Foi um caminho sem volta, ainda bem!
Conhecemos a importância do trabalho de Luís Câmara Cascudo, de Silvio Romero e de tantos outros escritores que, ainda hoje, coletam e registram contos da tradição oral através da escrita ou de outras tecnologias. Sabemos que são histórias do imaginário popular que se perpetuaram através da voz dos contadores de histórias. Ler Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa de Cléo Busatto foi muito importante para confirmar minhas idéias a respeito do tema e realizar grandes descobertas. Para ela, “o conto de literatura oral é uma das mais genuínas expressões culturais da humanidade...Saber da sua provável origem mostra-se apenas uma curiosidade, porque o conto se molda ao contexto onde ele é narrado e vai se adaptando às cores e aos tons de cada povo, de cada contador que o narrou...mas sua essência continuou inalterada. O conto de tradição oral é um retrato da magia e do encantamento, uma fantástica criação da mente humana.”
Ao ler, há três anos, Como e por que ler os clássicos universais desde cedo de Ana Maria Machado, lancei o projeto “Teia de Histórias” que, a cada ano letivo, destaca um tema, época, autor, título ou tipo de história. Sabem por onde comecei? Pelas histórias de menor prestígio: os contos de fadas e as fábulas.
Sabia que “ ... no início do século XX, Milman Parry revelou ao mundo que a Ilíada e Odisséia, de Homero, considerados a primeira literatura escrita do Ocidente, eram na verdade, originalmente, poemas orais, e que foram transcritos para a escrita “em algum ponto entre 700 e 550 a,C.” (Havelock).”
Mas descobrir que, entre outros clássicos citados no livro de Cléo Busatto, “...Romeu e Julieta, de Shakespeare (1564-1616), tem a mesma temática do antigo conto grego Píramo e Tisbe, que por sua vez tem origem oriental (Calvino, 2000)... registrado por Ovídio, poeta italiano nascido por volta do ano 42 a.C. “, deu-me um gostinho de vitória diante das críticas daqueles que equivocadamente dão importância apenas à literatura escrita.
Acredito que não há país com tanta diversidade étnica e cultural quanto o nosso. No entanto, pouco tem sido feito para valorizar essa pluralidade.O preconceito é nítido, mas as camadas populares ainda resistem, principalmente quando residem fora das grandes cidades. Precisamos compreender que narrar mitos e lendas do nosso povo é muito mais do que mostrar nossa maneira de ver o mundo, é “reconhecer a nossa complexidade e colaborar para a erradicação de preconceitos” (Busatto, 2003).
“O nosso acervo de literarura oral não tem a devida atenção que merece, não é considerado pelo que é, ou seja, um patrimônio de cultura e sabedoria, legado pelas tantas etnias responsáveis pela formação da raça brasileira” , acentua Cléo Busatto.
Garantir espaços para a tradição oral nas escolas, praças, feiras de livros e universidades é fundamental no processo de reconstrução da identidade cultural e da memória desse nosso Brasil desigual, porque ...
“Narrar um conto implica em se apropriar dos seus símbolos, e isto é mais do que importante, é essencial. Vivemos num momento árido, povoado de imagens vazias, destituídas de significados, e resgatar significados é imprescindível para a nossa existência”(Busatto, 2003).
Continuo tecendo os fios da Teia, agora com o projeto “No balanço das histórias”, remetendo a todos os que contaram histórias no embalo das cadeiras de balanço, das redes e aos que hoje insistem em encantar e resgatar a oralidade usando também a mídia. O importante é reinventar o tempo e o espaço, tentar e acreditar que “a vida é sonho e os sonhos, sonhos são”(Calderón de La Barca).
Cléo Busatto é atriz, Mestre em Letras, arte-educadora e escritora. É autora do livro A Arte de Contar Histórias no Século XXI também pela Editora Vozes. Para saber mais clique aqui.
Referências bibliográficas:
Busatto, Cléo. Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
Calvino, Ítalo. Por que ler os Clássicos. São Paulo: Companhia das Letras.
Havelock, E.A. A revolução da escrita na Grécia e suas conseqüências culturais. São Paulo:UNESP/Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Machado, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
De 23 a 26 de agosto estarei participando do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias no SESC Rio e voltarei com experiências e histórias para contar.
4 comentários:
Oi, criei um blog hoje e to visitando os futuros amigos.
Seu blog é mto legal!!!!
Um abraço
Excelente Blog. Fazia um bom tempo que eu não passava por aqui. òtimo conteúdo, e adorei esse post:
“O contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo nos apresentando um outro tempo”.
Abração
Ola, Fátima,
Claro que pode postar meus textos em seu blog. Será um prazer receber suas visitas e comentários.
Um grande abraço,
Fabio
http://diariodatribo.blogspot.br
Ops, lá foi o meu endereço errado:
http://diariodatribo.blogspot.com
Abraço,
Fabio
Postar um comentário