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domingo, 19 de agosto de 2007

Literatura Oral


Literatura Oral

“O contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo nos apresentando um outro tempo”.
Cléo Busatto

Na minha casa, o único livro era a Bíblia Sagrada. Mesmo assim, as histórias estavam lá na voz da minha mãe e nas imagens que eu criava. Eram contos e “causos” que meu avô contava ao anoitecer, depois da ceia. Ele deitava na rede e a filharada nas esteiras, nos meses em que passavam na casa da salina do Flamengo. Com saudades , ela recordava e narrava essas e outras das viagens de canoa pelo Rio São Francisco.
Sempre valorizei minhas raízes e, a cada Bienal ou Salão do Livro, enchia as prateleiras da escola onde trabalhava de livros de folclore. Quando levei o projeto “De Mala e Cuia” do Museu do Folclore para lá, fiquei perdidamente apaixonada pela literatura oral. Foi um caminho sem volta, ainda bem!
Conhecemos a importância do trabalho de Luís Câmara Cascudo, de Silvio Romero e de tantos outros escritores que, ainda hoje, coletam e registram contos da tradição oral através da escrita ou de outras tecnologias. Sabemos que são histórias do imaginário popular que se perpetuaram através da voz dos contadores de histórias. Ler Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa de Cléo Busatto foi muito importante para confirmar minhas idéias a respeito do tema e realizar grandes descobertas. Para ela, “o conto de literatura
oral é uma das mais genuínas expressões culturais da humanidade...Saber da sua provável origem mostra-se apenas uma curiosidade, porque o conto se molda ao contexto onde ele é narrado e vai se adaptando às cores e aos tons de cada povo, de cada contador que o narrou...mas sua essência continuou inalterada. O conto de tradição oral é um retrato da magia e do encantamento, uma fantástica criação da mente humana.”
Ao ler, há três anos, Como e por que ler os clássicos universais desde cedo de Ana Maria Machado, lancei o projeto “Teia de Histórias” que, a cada ano letivo, destaca um tema, época, autor, título ou tipo de história. Sabem por onde comecei? Pelas histórias de menor prestígio: os contos de fadas e as fábulas.
Sabia que “ ... no início do século XX, Milman Parry revelou ao mundo que a Ilíada e Odisséia, de Homero, considerados a primeira literatura escrita do Ocidente, eram na verdade, originalmente, poemas orais, e que foram transcritos para a escrita “em algum ponto entre 700 e 550 a,C.” (Havelock).”
Mas descobrir que, entre outros clássicos citados no livro de Cléo Busatto, “...Romeu e Julieta, de Shakespeare (1564-1616), tem a mesma temática do antigo conto grego Píramo e Tisbe, que por sua vez tem origem oriental (Calvino, 2000)... registrado por Ovídio, poeta italiano nascido por volta do ano 42 a.C. “, deu-me um gostinho de vitória diante das críticas daqueles que equivocadamente dão importância apenas à literatura escrita.
Acredito que não há país com tanta diversidade étnica e cultural quanto o nosso. No entanto, pouco tem sido feito para valorizar essa pluralidade.O preconceito é nítido, mas as camadas populares ainda resistem, principalmente quando residem fora das grandes cidades. Precisamos compreender que narrar mitos e lendas do nosso povo é muito mais do que mostrar nossa maneira de ver o mundo, é “reconhecer a nossa complexidade e colaborar para a erradicação de preconceitos” (Busatto, 2003).
“O nosso acervo de literarura oral não tem a devida atenção que merece, não é considerado pelo que é, ou seja, um patrimônio de cultura e sabedoria, legado pelas tantas etnias responsáveis pela formação da raça brasileira” , acentua Cléo Busatto.
Garantir espaços para a tradição oral nas escolas, praças, feiras de livros e universidades é fundamental no processo de reconstrução da identidade cultural e da memória desse nosso Brasil desigual, porque ...
“Narrar um conto implica em se apropriar dos seus símbolos, e isto é mais do que importante, é essencial. Vivemos num momento árido, povoado de imagens vazias, destituídas de significados, e resgatar significados é imprescindível para a nossa existência”(Busatto, 2003).
Continuo tecendo os fios da Teia, agora com o projeto “No balanço das histórias”, remetendo a todos os que contaram histórias no embalo das cadeiras de balanço, das redes e aos que hoje insistem em encantar e resgatar a oralidade usando também a mídia. O importante é reinventar o tempo e o espaço, tentar e acreditar que “a vida é sonho e os sonhos, sonhos são”(Calderón de La Barca).

Cléo Busatto é atriz, Mestre em Letras, arte-educadora e escritora. É autora do livro A Arte de Contar Histórias no Século XXI também pela Editora Vozes. Para saber mais clique aqui.
Referências bibliográficas:
Busatto, Cléo. Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
Calvino, Ítalo. Por que ler os Clássicos. São Paulo: Companhia das Letras.
Havelock, E.A. A revolução da escrita na Grécia e suas conseqüências culturais. São Paulo:UNESP/Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Machado, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

E visite também os blogs:
Ponto do Conto
De 23 a 26 de agosto estarei participando do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias no SESC Rio e voltarei com experiências e histórias para contar.

domingo, 12 de agosto de 2007

Pai


Ser Pai

Ser Pai é ser companheiro
construindo no meio familiar a grandeza dos filhos
para alicerçar valores que edificam a sociedade.

Ser Pai é ser jardineiro
plantando raízes de virtudes com mãos delicadas
para que o lar seja sementeira de luz e verdade.

Ser Pai é ser herói
protegendo o espaço sagrado de seu Templo-Família
cultivando no coração dos filhos o germe da harmonia.

Ser Pai é ser fonte de vida
inaugurando nossa história com gestos de amor e
renovando perenemente a herança da criação.

Ser Pai é ser poeta
declamando com carinho os versos de sua vivência
para cultivar e enobrecer
os projetos de nossa existência!

Autor Desconhecido

Dia dos Pais

Órfã de mãe, a americana Sonora Smart ainda era criança em 1909 e estava assistindo a um sermão no Dia das Mães quando percebeu o quanto era injusto que seu pai, viúvo,tendo criado sozinho seis filhos, não recebesse nenhuma homenagem. Afinal, ele cumpria o papel de pai e de mãe também! Sonora espalhou essa idéia e todos aprovaram.. Tanto que, no ano seguinte, sua cidade em peso comemorou aquela data como o Dia dos Pais, que foi oficializada em 1924 pelo presidente americano. A idéia pegou no mundo todo, mas as comemorações acontecem em datas diferentes em diversos locais. Enquanto no país de origem é o terceiro domingo de junho, no Brasil comemora-se no segundo domingo de agosto.

Autor desconhecido


Do meu pai guardo vagas lembranças. Ele partiu cedo, semblante sereno, justamente na semana de comemorações. Consumiu-se na fumaça, no sofrimento, nas brincadeiras, no trabalho digno e ético , nas divagações, no gosto por mato, bichos e gente, nos seus intermináveis silêncios. Era um sonhador e acreditava na humanidade. Saudades, pai.

Ao meu pai, meu eterno agradecimento.

Aos pais que foram ou são verdadeiros pais, desejo o reconhecimento dos filhos.

Aos filhos não desejados, a certeza de que Deus é PAI e nunca os abandona, mas os ama e está a sua espera.

domingo, 5 de agosto de 2007

Blogs com Tomates


Recebi da Marli, do Blogosfera , e da Gládis do Palavra Aberta, o prêmio Blogs com Tomates, brincadeira iniciada pela blogueira Brit.com com o propósito de revelar pessoas que lutam pelos direitos fundamentais do ser humano. Com isso, cada premiado deve escolher mais cinco blogs e indicá-los, reforçando assim a rede de blogs.
Também fiquei feliz e curiosa, como a Miriam Salles , e um pouco desconfiada, embora não seja mineira: qual seria o significado de “com tomates”? Teresa Pombo lhe enviou a explicação na lista Blogs Educativos:
"(…) a expressão idiomática com tomates significa com coragem. Qual é a origem dessa expressão, querem saber? Bom, na gíria portuguesa tomates refere-se aos testículos. Um homem, ou por alargamento semântico, alguém com tomates é alguém muito corajoso ".
Ah, isso eu sou mesmo! Sempre digo aos amigos que minha vida daria um bom livro. Publicaria se arrumasse um bom e sério escritor! Visitei todos os amigos blogueiros, pois lutam pelo direito à liberdade de expressão, à educação, às artes , ao esporte, à segurança, saúde, moradia, enfim, à inclusão social de nossas crianças, adolescentes e jovens, nesse planeta abençoado por Deus. Que responsabilidade! Alguns já tinham sido escolhidos!Por isso, por enquanto, indico apenas esses:
Lata Mágica e/ou Publicações pela iniciativa inusitada desses jovens pernambucanos;
Muitos Desenhos pela simplicidade e criatividade da ilustradora e escritora Mariana Massarani; meus alunos adoram!
O Ponto do Conto porque reencontrei Eliana Ribeiro, arte-terapeuta e contadora de histórias, e com ela estou buscando minhas raízes e (re)aprendendo a contar histórias.
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