Páginas

domingo, 28 de março de 2010

Sabor de Palavra

Sabor de Palavra é o blog de Poesia de Teresa Martinho Marques que vive entre o Tejo e o Sado. Tenho dois livros dela e falei deles aqui ó e aqui também! Como gostaria de vê-la atravessar o Atlântico para lançar um livro no Brasil. Enquanto esse dia não chega, publico "Antes de ser dia" para provarem as palavras de T e iluminarem o olhar com uma imagem de Vlad Gerasimov.





Antes De Ser Dia


Percebemos pelo sorriso
que não está sozinho.
Ali
mesmo ao virar da esquina
do azul
no rectângulo casa
(conseguem ver?)
uma princesa
que é quase fada
quase menina quase mulher
vem já já já
muito depressa
antes de ser dia
contar-lhe um segredo
que é uma promessa
oferecer um beijo
colar-lhe uma asa
fazer-lhe um feitiço
chamado magia.

Teresa Martinho Marques

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pais e Filhos


Pais e Filhos

Letra: Renato Russo 
 Música: Dado Villa-lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Estatuas e cofres. E paredes pintadas.
Ninguém sabe o que aconteceu.
Ela se jogou da janela do quinto andar.
Nada é fácil de entender.

Dorme agora.
É só o vento lá fora.
Quero colo. Vou fugir de casa.
Posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo. Tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três.

Meu filho vai ter nome de santo.
Quero o nome mais bonito.

É preciso amar as pessoas como se
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar,
Na verdade não há.

Me diz porque que o céu é azul.
Explica a grande fúria do mundo.
São meus filhos que tomam conta de mim.

Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar.
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar.
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais.
Eu moro com os meus pais.

É preciso amar as pessoas como se
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar,
Na verdade não há.

Sou uma gota d'agua
Sou um grão de areia.
Você me diz que seus pais não lhe entendem.
Mas você não entende seus pais.

Você culpa seus pais por tudo.
E isso é absurdo.
São crianças como você
O que você vai ser, quando você crescer?


Minha homenagem ao gênio Renato Russo, mais um grande artista aqui da minha Ilha do Governador. Nossa Lona Cultural leva seu  nome e possui uma exposição permanente. Visitem.

domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia

O Dia Mundial da Poesia foi instituído pela UNESCO em 2000. Durante a conferência, o japonês Koichiro Matsuura, justificou a iniciativa pela “universalidade e natureza transcendental desta forma de expressão, constituindo por isso mesmo um meio incomparável para a compreensão inter - cultural e para a consolidação da paz no mundo.”
Aproveito a data para homenagear a  poeta americana Emily Dickinson.

Uma palavra morre
Quando é dita —
Dir-se-ia —
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia.

Tradução: Aíla de Oliveira Gomes


Para encher um vazio
Ponha de volta Aquilo que o causou.
Baldado cobri-lo
Com outra coisa  -- sua boca vai mais se escancarar –
Não se pode soldar o abismo
Com  ar.

Tradução de Aíla de Oliveira Gomes



Para jovens (como eu!), há dois livros bilingues com poemas de Emily Dickinson: Um livro de horas com tradução e ilustração de Ângela-Lago, e Poemas Escolhidos traduzidos por Ivo Bender.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Dia Nacional da Poesia


Consideração do poema

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporam
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começá-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.


    Releituras


O Dia Nacional da Poesia foi ontem! Sem problemas porque poesia é para todo dia ou deveria ser. Não sei como alguém tem a capacidade de dizer que não gosta de poesia. Impossível não admirar Carlos Drummond de Andrade, um dos nossos grandes poetas.

sábado, 13 de março de 2010

A Mulher e o Mar


Inscrição

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.

Sophia de Mello Breyner Andersen




Esses versos de um poema de Sophia de Mello Breyner Andersen refletem sua intensa relação com o mar. Eu diria que esta é Sophia: a mulher e o mar. E ainda me atrevo a dizer que sou eu. Em algumas ocasiões, deixei claro que preciso do mar para me sentir renovada.
O meu primeiro contato com a escritora foi através da literatura infantil. Tenho uma edição bem antiga de A Fada Oriana. A poesia veio mais tarde e me encantou. Escolhi algumas para leitura e apreciação.





Eis-me

Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)












sexta-feira, 12 de março de 2010

Ó Mulher


A Mulher


Florbela Espanca

I

Um ente de paixão e sacrifício,
De sofrimento cheio, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do peito,
E nem te doas coração, sequer!

Sê forte, corajoso, não fraquejes
Na luta: sê em Vénus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e infame e os homens
Se te sentem gemer hão-de pisar-te!

Se à vezes tu fraquejas, pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho
Eles deixam pra sempre maculada;

E gritam então vis: "Olhem, vejam
É aquela a infame!" e apedrejam
a pobrezita, a triste, a desgraçada!


II

Ó Mulher! Como é fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosas duma image
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!


Mais um post com o tema Mulher.
Hoje, Florbela Espanca, uma apaixonada por livros. Certa vez, em carta a uma amiga escreveu:

"Eu não sou em muitas coisas nada mulher; pouco de feminino tenho em quase todas as distrações de minha vida. Todas as ninharias pueris em que as mulheres se comprazem, toda a fina gentileza duns trabalhos em seda e oiro, as rendas, os bordados, a pintura, tudo isso que eu admiro e adoro em todas as mãos de mulher, não se dão bem nas minhas apenas talhadas para folhear livros que são, verdadeiramente, os meus mais queridos amigos e os meus inseparáveis companheiros." 

quarta-feira, 10 de março de 2010

Mulher ao Espelho


Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.”

Cecília Meireles

Percebi que as mulheres ocupam um espaço insignificante na minha estante. Então resolvi reparar o equívoco, começando pelo blog. Admiro a poesia e a prosa de muitas. Comecei com Adélia Prado, passei por Cora Coralina e hoje Cecília Meireles. Escolhi a imagem porque ela foi a primeira fundadora de uma Biblioteca Infantil.





Mulher ao espelho

Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seu
se morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.




Cecília Meireles

terça-feira, 9 de março de 2010

Mulher da Vida

Mulher da vida, minha irmã
               Cora Coralina


Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.


Mulher da Vida, minha irmã.

Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.

Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.

Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da Terra.

Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens que
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.

A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.

As pedras caíram
e os cobradores deram s costas.

O Justo falou então a palavra de eqüidade:
“Ninguém te condenou, mulher...
nem eu te condeno”.

A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.

Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.

Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.

Mulher da Vida, minha irmã.

No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.

E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco em
novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrurível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.

Mulher da Vida, minha irmã.

Declarou-lhe Jesus:
“Em verdade vos digo
que publicanos e meretrizes
vos precedem no Reino de Deus”.
Evangelho de São Mateus 21, ver.31.


 Poemas dos becos de Goiás. Editora Global.

Mais poesia para a mulheres. Desta vez, de Aninha, dedicada ao Dia Internacional da Mulher em 1975.

segunda-feira, 8 de março de 2010

MULHER



A CEF fez uma homenagem à Adélia Prado com a mesma poesia que escolhi para o post e professores da escola. Foi coincidência mesmo. Merecia um slide, porém o tempo só permitiu a simplicidade desse quadro. Ah, o tempo das mulheres! Desdobramo-nos em quantas são possíveis para dar conta de tantos afazeres. Quantas vezes deixei a comida  queimar diante de tantas telas abertas e livros espalhados pela mesa! Quantas vezes pedi que alguém da família esperasse até que concluísse uma tarefa! É preciso ser mulher e mãe. Eu sou.

Com licença poética...
Não queria nascer
o anjo quis me levar de volta.
Não chorei
Não ri
Sobrevivi.
Nome de santa e rainha
"Vá, menina, ser leitora na vida!"

A todas as mulheres que acompanham minhas histórias nem tanto essenciais, exceto as dos escritores e ilustradores, o meu carinhoso abraço.

domingo, 7 de março de 2010

O Segredo de Kells

O Segredo de Kells nem foi lançado no Brasil e já tem para baixar com legenda em português? O YouTube ainda não disponibilizou a nova ferramenta para este longa animação que concorre ao OSCAR 2010. 
O cineasta Marcelo de Moura, co-produtor do filme, fala em entrevista a Augusto Nunes  que tem poucas chances diante de tantos concorrentes famosos, de como foi produzido e de seus novos projetos aqui. Mesmo sem ter assistido durante o Festival Internacional de Cinema Infantil ( clique para ver teaser trailer) em 2009,  vou torcer. Veja o motivo:

Em um mosteiro, o mais fantástico dos livros precisa ser concluído e mostrado ao mundo. Esta misteriosa tarefa é dada a Brendan, um menino de apenas 12 anos. Para completar o lendário livro de Kells, ele conta com os ensinamentos do mestre Aidan e com a ajuda de Aisling, uma misteriosa menina-lobo. E ainda desobedece ao seu amado tio, o Abade Cellach, se perdendo na floresta encantada onde a força de uma serpente diabólica protege o incrível olho de cristal. Mas este é apenas o começo da jornada para Brendan se tornar o mais especial dos escribas.

O Livro de Kells, também conhecido como Grande Evangelho de São Columba, é um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800. Por sua preciosa beleza e a excelente técnica do seu acabamento, este manuscrito é considerado por muitos especialistas um dos mais importantes documentos da arte religiosa medieval.O livro de Kells foi escrito em latim, contém os quatro Evangelhos do Novo Testamento e muitas ilustrações coloridas. O manuscrito encontra-se exposto permanentemente em Dublin, na Irlanda. 

Estas informações foram retiradas de um arquivo em pdf que dispõe de atividades pedagógicas relacionadas ao filme e você pode encontrar aqui.

Veja outro  trailer:








segunda-feira, 1 de março de 2010

Valsa de uma cidade

Minha cidade é indiscutivelmente bela. Pergunte a minha mamãe nordestina se quer voltar para sua terra. Cresci ouvindo minha querida dizer "O Rio de Janeiro é lindo!". No entanto, de maravilhosa ,deixa a desejar há muito tempo. Pelo menos hoje, dia do aniversário da cidade, vou ouvir Rita Lee cantar "Valsa de uma cidade" para espantar os urubus e atrair boas energias.



VALSA DE UMA CIDADE
Composição: Ismael Netto / Antônio Maria


Vento do mar no meu rosto
E o sol a brilhar, brilhar
Calçada cheia de gente
A passar e a me ver passar
Rio de janeiro, gosto de você
Gosto de quem gosta
Deste céu, desse mar,
Dessa gente feliz
Bem que eu quis escrever
Um poema de amor e o amor
Estava em tudo que eu quis
Em tudo quanto eu amei
E no poema que eu fiz
Tinha alguém mais feliz que eu
O meu amor
Que não me quis
Em tudo quanto eu amei
E no poema que eu fiz
Tinha alguém mais feliz que eu
O meu amor.



Related Posts with Thumbnails