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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Um apaixonado pelos livros

"A gente passa, os livros ficam"
José Mindlin




Uma apaixonada por livros não poderia deixar de homenagear um apaixonado por livros: José Mindlin. Lembrei-me de como fez seu motorista leitor ao entregar “O Tempo e o Vento” de Érico Veríssimo para ler enquanto esperava por ele. Não há idade para se tornar leitor. Eu  tinha certeza disso e este exemplo, lido na Revista Nova Escola, ficou gravado em minha memória.
Hoje, ele partiu e o vídeo fica como lembrança deste grande e generoso brasileiro  que ganhou  celebridade por uma causa rara: o prazer  leitura literária.
Quem sente, sabe que estamos irremediavelmente perdidos!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Livro é passaporte

Ideias boas devem ser copiadas. Resolvi pôr o vídeo do Manifesto por um Brasil literário na barra lateral a exemplo do blog  Resumo do Cenário. Já havia divulgado aqui o que considerava urgente após meu retorno da FLIP. Quem ainda não aderiu está esperando o quê? Assistam, assinem e passem adiante.
Aproveito o momento para compartilhar outro texto, O livro é passaporte, é bilhete de partida, de Bartolomeu Campos de Queirós , vencedor do prêmio Glória Pondé, concedido pela  Biblioteca Nacional a obras infantis e juvenis, com o livro Tempo de Voo. Torço para Bartolomeu ganhar o Andersen/2010.



O livro é passaporte, é bilhete de partida

Bartolomeu Campos Queirós
 Desconheço liberdade maior e mais duradoura do que esta do leitor ceder-se à escrita do outro, inscrevendo-se entre as suas palavras e os seus silêncios. Texto e leitor ultrapassam a solidão individual para se enlaçarem pelas interações. Esse abraço a partir do texto é soma das diferenças, movida pela emoção, estabelecendo um encontro fraterno e possível entre leitor e escritor. Cabe ao escritor estirar sua fantasia para, assim, o leitor projetar seus sonhos.
As palavras são portas e janelas. Se debruçamos e reparamos, nos inscrevemos na paisagem. Se destrancamos as portas, o enredo do universo nos visita. Ler é somar-se ao mundo, é iluminar-se com a claridade do já decifrado. Escrever é dividir-se.
Cada palavra descortina um horizonte, cada frase anuncia outra estação. E os olhos, tomando das rédeas, abrem caminhos, entre linhas, para as viagens do pensamento. O livro é passaporte, é bilhete de partida.
A leitura guarda espaço para o leitor imaginar sua própria humanidade e apropriar-se de sua fragilidade, com seus sonhos, seus devaneios e sua experiência. A leitura acorda no sujeito dizeres insuspeitados enquanto redimensiona seus entendimentos.
Há trabalho mais definitivo, há ação mais absoluta do que essa de aproximar o homem do livro?


Experimento a impossibilidade de trancar os sentidos para um repouso. O corpo vivo vive em permanente e vários níveis de leitura. Não há como ausentar-se, definitivamente, deste enunciado, enquanto somos no mundo. O corpo sabe e duvida. A dúvida gera criações, enquanto a certeza traça fanatismos.
Reconheço, porém, um momento em que se dá o definitivo acontecimento: a certeza de que o mundo pessoal é insuficiente. Há que buscar a si mesmo na experiência do outro e inteirar-se dela. Tal movimento atenua as fronteiras e a palavra fertiliza o encontro.
Acredito que ler é configurar uma terceira história, construída parceiramente a partir do impulso movedor contido na fragilidade humana, quando dela se toma posse. A fragilidade que funda o homem é a mesma que o inaugura, mas só a palavra anuncia.
A iniciação à leitura transcende o ato simples de apresentar ao sujeito as letras que aí estão já escritas. É mais que preparar o leitor para a decifração das artimanhas de uma sociedade que pretende também consumi-lo. É mais do que a incorporação de um saber frio, astutamente construído.
Fundamental, ao pretender ensinar a leitura, é convocar o homem para tomar da sua palavra. Ter a palavra é, antes de tudo, munir-se para fazer-se menos indecifrável. Ler é cuidar-se, rompendo com as grades do isolamento. Ler é evadir-se com o outro, sem contudo perder-se nas várias faces da palavra. Ler é encantar-se com as diferenças.


Fonte:

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. O livro é passaporte, é bilhete de partida. In: PRADO, Jason et CONDINI, Paulo (orgs.). A formação do leitor - pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999.


domingo, 21 de fevereiro de 2010

Poeminho do contra




Animação em Homenagem a Mario Quintana produzida pelo Grupo de Estudos em Animação da FURG. Participação no 3º Granimado - Mostra Gaúcha e Infantil, no concurso Mini-metragem do Histórias Curtas 2008 da RBS TV e premiado na categoria 2D do Animaserra 2008. Direção de Wagner Passos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Marcha de Quarta-feira de cinzas



Marcha de Quarta-Feira de Cinzas

Composição: Vinicius de Moraes / Carlos Lyra

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz

É mesmo tudo o que resta após tantos dias de folia?

'Lembra-te que do pó viestes e ao pó, hás de retornar'

Gn 3,19

Começa a Quaresma, um tempo de conversão, de arrependimento, de partilha e de oração. Tudo é passageiro e a mudança de hábitos e atitudes é possível. A Campanha da Fraternidade de 2010 tem o tema "Economia e Vida" e o lema " Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro" Mt 6,24

Paz para todos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis

Apresento enredo e samba-enredo do

G.R.E.S. União da Ilha do Governador para o Carnaval do Rio de Janeiro 2010.

Moro no bairro desde que nasci. Cresci ouvindo o ritmo da bateria, cantando os sambas, observando as fantasias e acompanhei as vitórias e derrotas da minha querida escola de samba. Hoje, ela voltou ao grupo especial e se apresentou com alegria e muita garra com um enredo sobre a obra

de Miguel Cervantes, um dos maiores clássicos de todos os tempos.


Estou emocionada e feliz!


"D. Quixote de la Mancha...

o cavaleiro dos sonhos impossíveis"


O enredo:

"Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia um fidalgo. Tinha em casa uma ama e uma sobrinha. Orçava em idade, o nosso fidalgo, pelos cinquenta anos. Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador e amigo da caça...

É pois de saber, que este fidalgo, nos intervalos que tinha de ócio, que eram muitos, se dava a ler livros de cavalaria com tanto empenho e prazer, e era tanta paixão por essas histórias, que chegou a vender parte de suas terras para comprar livros de Cavalaria. O que mais admirava era os "Os quatro de Amadis de Gaula", primeiro livro de cavalaria que se imprimiu na Espanha.

E o pobre cavaleiro foi perdendo o juízo. Sua imaginação foi tomada por tudo o que lia nos livros - feitiçarias, contendas, batalhas, desafios, amores e disparates inacreditáveis. Foi assim que acudiu-lhe a mais estranha idéia , que jamais ocorrera a outro louco nesse mundo. Pareceu-lhe conveniente fazer-se cavaleiro andante, em busca de aventuras e viver tudo o que havia lido sobre o assunto".

Assim começa a saga de um cavaleiro que se tornou imortal. Escrito por Miguel de Cervantes, a princípio era uma crítica aos romances de cavalaria. Porém sua importância foi além dos limites que imaginara. É considerado o primeiro romance da era moderna e escolhido como o melhor livro já escrito até os dias de hoje.

Voltando ao nosso herói, ele escolheu um nome, Quixote de la Mancha, batizou seu magro cavalo de Rocinante, tomou um vizinho, lavrador pobre e bastante simplório, como seu fiel escudeiro. E para cavaleiro andante nada mais lhe faltava a não ser uma dama. Foi então que se lembrou de uma aldeã por quem já fora enamorado, embora ela nunca tenha sabido, chamada Aldonza Lorenzo. Pôs-lhe então o nome de Dulcinéia del Toboso.

Assim, armado e montado em Rocinante, acompanhado pelo escudeiro Sancho Pança montando seu burrico russo, Dom Quixote resolve sair em busca de aventuras, que devo dizer não foram poucas.

Investiu contra os moinhos de ventos, achando que eram gigantes, obra do grande feiticeiro Fristão, tomou rebanho de ovelhas por exércitos inimigos, e fez o mesmo com uma manada de touros. De um barbeiro, levou-lhe a bacia dourada, pois achava que era o elmo de Mambrino, colocou-a na cabeça e esta bacia passou a fazer parte de sua indumentária enferrujada e antiga, pertencente a seu bisavô.

Enquanto Dom Quixote se aventura pelo mundo, sua sobrinha, ajudada por amigos, resolve destruir todos os livros de cavalaria dele e bloqueia a porta do seu escritório, para parecer que esta sumira como que por encantamento. No afã de levá-lo de volta para casa, o noivo da moça se disfarça de cavaleiro da Branca Lua e desafia Quixote para um torneio. Caso ele perdesse, teria que se refugiar em casa por um período de um ano, esquecendo-se das aventuras de cavaleiro andante.

Quixote é vencido por seu oponente e, como era fidalgo de palavra, volta para casa, para júbilo de todos, e aos poucos vai recobrando a sensatez e esquecendo-se das aventuras do grande D. Quixote de la Mancha.

"Quixote encanta pela loucura da luta por ideais dos quais a razão desistiu. Os humanistas domesticados pela razão cínica viraram técnicos em acomodação".

Quixote, como Cervantes, foi-se em agitação criativa e penúria material. Quatro séculos após a sua vinda, restam o quixotesco de anedota, frases divertidas, fugaz admiração. Do ideal, apenas a glória do derrotado. Venceu o pragmatismo de Sancho.

Mas vale a pena ler, quimeras são sempre divertidas, a infância ou a loucura ainda mora na essência das nossas almas quixotescas...

"Sonhar, Mais um sonho impossível Lutar Quando é fácil ceder Negar quando a regra é vender... Voar num limite improvável Tocar o inacessível chão".

Rosa Magalhães

Carnavalesca

Bibliografia consultada:

- Dom Quixote de la Mancha - de Miguel de Cervantes - Ilustrações de Gustave Doré - Tradução - Viscondes de Castilho e de Azevedo - Lello e irmão editores - Porto - 2 volumes - s/data

- Dom Quixote de la Mancha - de Miguel de Cervantes, tradução de Ferreira Gullar - editora Revan - 2002

- Artigo - Quatro séculos do maluco beleza - Alcione Araújo - Revista Argumento número 8 pág 117

- Sonho impossível - Musical Mano of la Mancha - de Dale Wasserman, Joe Darion, Mitch Leigh - tradução Chico Buarque de Hollanda.

O samba-enredo:

Voltou a Ilha

Delira o povo de alegria

Nessa folia sou fidalgo, sou leitor

Cavaleiro sonhador

Meu mundo é de magia

Vou cavalgar no Rocinante

Meu escudeiro é Sancho Pança

Se Dulcineia é meu amor

Quem eu sou?

Dom Quixote de La Mancha

O gigante moinho me viu, deu no pé

O povo grita... Olé

Nesse feitiço tem castanhola

A bateria hoje deita e rola

Vesti a fantasia, fui à luta

Venci manadas, rebanhos

Fiz de uma bacia meu elmo de glórias

Meus livros se perderam pela história

Enfim, fui vencido pelo Branca Lua

Voltei pra casa esquecendo as aventuras

O tempo ficou com meus ideais

Quimeras são imortais


A Ilha vem cantar

Mais um sonho impossível... Sonhar!

Quem é que não tem uma louca ilusão

E um Quixote no seu coração


Autores: Grassano, Gabriel Fraga, Márcio André Filho, João Bosco, Arlindo Neto, Gugu das Candongas, Marquinhus do Banjo, Barbosão, Ito Melodia e Léo da Ilha


Fonte: Liesa



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