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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

QUERIDA



Querida, Lygia

Acabo de fechar o seu livro. Ainda está aqui ao meu lado, teimoso, esperando ser guardado. Certa vez, alguém me disse que os livros deveriam circular para que outros lessem. Concordo, menos os meus.



Imagine, querida, se eu, portadora de um mal incurável, a possessividade, poderia me desvencilhar assim tão facilmente desses lugares sagrados onde estão guardadas as histórias que li e vivi. Neste pequeno lugar onde moro, não há mais espaço nem para os que se insinuam e me segredam “leia-me”. Então, fiquei sonhando com um Retiro, não exatamente este na montanha da Ella, Pacífico e Pollux, mas com um que ficasse naquela paisagem da Sicília. Ah, como preciso ver, cheirar e sentir o mar para me acalmar.

Tenho aqui a minha querida embora não a chame assim. Atende por mamãe. Tenho o meu querido, meu filho muito amado. Se você soubesse das dores que tenho sentido toda vez que escapa do ninho. Diria que não é “amor doente”, é 'amor demais'.

Não faço literatura. Não sei “disfarçar minhas preocupações e anseios”, contento-me em ser leitora. Como eu gostaria de “ser capaz de dramatizar na escrita os próprios problemas e emoções negativas e assim, exorcizá-los”. No entanto, consigo contá-las para quem tem paciência para ouvi-las. Encontrar orelhas tem sido o problema. Todos têm tempo para tudo, menos para escutar.

É bom saber-se querida. Melhor ser chamada de querida, esta palavra tão esquecida. Encontrar um Pacífico na vida é ganhar na loteria. Oh, se é! As histórias de amor pelo ser humano e pela arte vividas pelas suas personagens em Querida , Lygia Bojunga, agora me pertencem porque livro bom é assim, fica guardado dentro da gente.

Até nosso próximo encontro, querida!

Fátima


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