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sábado, 22 de março de 2008

Jesus Cristo

Web Gallery of Art

Paixão do Senhor
(Jo 18,1-19,42)

A Paixão de Jesus, sua prisão, os interrogatórios, as torturas e a crucificação, nos dão a certeza de que Deus não ficou indiferente aos crucificados da história. Fez-se um deles. Encarnou a paixão do mundo para transformá-la em caminho de redenção. O anúncio do reino de Deus é uma não conformação com este mundo. É uma proposta de uma nova Ordem para este mundo. Há os que o acolheram e o seguiram. Há também os que o rejeitaram e o condenaram levando-o à morte de cruz. A morte de Jesus nasce deste enfrentamento. O projeto de Deus é o Reino que exige transformação das pessoas e do mundo no espírito das bem-aventuranças. Seguir Jesus é assumir as cruzes que nossa adesão ao projeto de Deus pode envolver.

Frei James Girardi, OFM
Rio de Janeiro, RJ

Com a Ressurreição, "A paz esteja convosco" e "Bem-aventurados os que acreditam sem ter visto!"

Boa Páscoa!

sexta-feira, 14 de março de 2008

A Arte de Contar Histórias










Tenho participado de muitos eventos e nem sempre tenho tempo de compartilhar tudo. Em novembro do ano passado, assisti no Centro Cultural Banco do Brasil à palestra e mesa redonda Práticas e Reflexões com Educadores sobre a Arte de Contar Histórias. Entre outros, lá estavam Andréa Pinheiro dos Tapetes Contadores de Histórias, Ninfa Parreiras,da FNLIJ, escritora e psicanalista, e Francisco Gregório Filho, contador de histórias e escritor.

Preciso comprar um gravador porque fica complicado, depois de tanto tempo, transcrever aqui algumas falas anotadas. Por que estou então contando sobre o fato?

O tempo foi escasso para cada palestrante relatar suas práticas, tecer comentários sobre o tema proposto e responder a todas as perguntas enviadas à mesa. Ficaram de enviar por e-mail as respostas. Já tinha até esquecido a promessa! Chegou há alguns dias todas as respostas às dezesseis perguntas. Gostaria de publicar tudo. São aulas generosas que só os contadores de histórias sabem dar.

Perguntei:

Os contadores de histórias são vistos como "animadores" pela maioria dos educadores e público. São "marqueteiros de livros" para os livreiros. No meio acadêmico, a literatura oral é vista com reservas. Consideram-na pitoresca, nativista, folclórica, "menor" por reforçar o caráter "colonizado" diante do "colonizador". Literatura escrita deve ter temática universal e literatura oral, regional? Particularmente, não gosto de contadores de histórias narrando contos com autoria. Penso que a pesquisa da literatura oral de vários povos deveria ser priorizada e defendida pelos contadores. O que pensam disso?

Responderam:

Cara Fátima ,

A Literatura Oral é fonte para Literaturas escritas. A Literatura infantil tem suas origens na oralidade. Mas há preconceitos e rótulos, que devemos combater na nossa prática de educadores. Todos deveriam ter seus espaços na cultura: a literatura oral, os contadores de histórias... No Brasil e no mundo, hoje, há uma tendência em se valorizar a literatura dos nativos, porém devemos ter cuidado com o mercado que explora isso de uma forma desenfreada
Abraços, Ninfa Parreiras.


R(Andrea): Querida Fátima, você levanta muitas questões. É verdade que, muitas vezes, os contadores são vistos como animadores e isso é sempre um risco. Por isso é que temos sempre que procurar as melhores condições e os melhores locais de trabalho. A experiência de nosso grupo já nos mostrou lugares em que conseguimos realizar um bom trabalho sem esse cunho de animação. Em todo caso, você tem razão, há muitas vezes essa visão. Nessas horas, me lembro do que disse a Inno Sorsy, contadora africana: ela acha uma loucura a existência da profissão de contador de histórias; na opinião dela, só existimos porque os pais e avós pararam de contar histórias aos seus filhos e netos. Para ela, quem tem que contar histórias é a família e não o contador profissional. As críticas à literatura oral, também sabemos, é grande, mas, na minha opinião, não vejo problema algum em contar histórias populares ou autorais, para mim, todas são válidas. E quanto à pesquisa dos contadores, creio que o fio condutor de um trabalho deve ser sempre aquilo de que o contador mais gosta, independente da sua origem.

Vamos lá:

Animadores: são vistos assim mesmo, muito pelo fato de não sermos uma classe organizada. Precisamos discutir sobre isso, uma associação de contadores de histórias. Mesmo que não haja a criação de uma, mas a inserção em organizações já existentes como o SATED, por exemplo.

Se a gente pensar bem, a gente vai lembrar que os atores até o início do século XX eram vistos marginalmente. E se organizaram. Hoje são reconhecidos como um mercado.

A gente tem de começar a se olhar como um mercado também. Com muito amor, muita dedicação, mas com um olhar de produção, pra conseguir modificar o olhar do público perante a nossa categoria.

Independente do trabalho que realizarmos (em festas, em lançamentos de livros, em teatros), temos de ser respeitados.

Daí, isso leva a outra reflexão: ao nos organizarmos enquanto categoria, qual será a natureza do objeto do nosso trabalho: histórias da tradição oral, contos autorais, literatura clássica?

Não tenho essa resposta, mas tenho opinião.

Conto pela beleza da história. Quando ela encontra espelho em mim, eu conto.

Hoje a gente tem um problema (pra gente, pros autores não): o direito autoral.

Por sobrevivência, é capaz de o objeto de atuação do contador se restringir às histórias de tradição oral por conta do direito autoral. A gente não tem $ pra tanto.

Por beleza estética, é uma pena. Pois há histórias contemporâneas que são dignas de serem chamadas de mitos.

E é uma pena... salvo algumas exceções.

Eu amo o conto “A moça tecelã”, da Marina Colasanti.

Contava, contava, até que falaram: tem que ter permissão.

Ok! Fui pedir permissão.

E ela, a Marina, linda, responde: “os contadores contam livres como passarinhos!”

Mas isso é ela.

Muitos não gostam, mesmo! Podem até dar permissão, mas não gostam.

É uma pena. Pois seríamos parceiros, humanos, educativos, enfim.

Voltando: falei de algumas histórias contemporâneas merecerem o título de mito. Por quê?

Por que elas trazem ao leitor o mistério, o inefável, o inexprimível. Mas que reverbera dentro da gente. Encontra cama dentro da gente.

Há muita história hoje em dia que não. Pode ser protegida, ser chamada de Literatura. Mas, na minha opinião, não é não. Não estimula o mínimo de transformação naquele que lê. É só pra ler, burocraticamente. E obra de arte tem de transformar o fruidor, nem que seja um pouquinho só (e que já é muito!).

Em um artigo transcrevi a Clarice Lispector e minha opinião. Trago aqui:

Em uma entrevista, Clarice Lispector, quando perguntada sobre o que esperava mudar com os seus textos, disse: "Nada. Não acredito que a Literatura possa mudar nada".

Nada. A história, a Contação de histórias, não muda nada.

Acrescenta. A Contação de histórias (leia-se aqui todos os gêneros cênicos e de outras artes) acrescenta sentidos, percepção, criação.

Principalmente na contemporaneidade, quando a sociedade ocidental oferece ao indivíduo um número ínfimo - contável nos dedos de uma mão, talvez - de ritos de passagem.

Acredito assim: que devemos contar histórias para acrescentar. Qualquer que seja a sua origem.

Obrigada a todos.

Até a próxima história

Tatiana Henrique

HTTP://mundoazulth.blogspot.com

Tatiana Henrique é da equipe do setor educativo do CCBB e era a mediadora da mesa. Respondeu magistralmente às perguntas encaminhadas ao mestre Francisco Gregório Filho. Fiquei satisfeita com os esclarecimentos e verdadeiramente agradecida a todas pelo acolhimento. Até a próxima história!


domingo, 9 de março de 2008

Mulher



Eu sou uma mulher

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.

Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.

Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho-d'água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.

Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.

O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.

O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.


Marina Colasanti
Rota de Colisão.
Editora Rocco.

Este é o presente-poema que recebi ontem do Francisco Gregório Filho na Oficina de Contadores de Histórias e repasso para todas as mulheres.Encontrei esse vídeo e nele a escritora recita o poema. Assistam. Abraços.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Encontro com a Fantasia

Gianni Rodari

O livro Os anões de Mântua de Gianni Rodari, Coleção Barco a Vapor da Editora SM, conta a história de anõezinhos inconformados com sua pequenez, “mas também de todo tipo de gente e gigantes”. Tema muito explorado, diriam aqueles que não conhecem o escritor, professor, jornalista, pedagogo, contador de histórias (acrescento) e autor da Gramática da Fantasia, livro essencial para todos aqueles que pretendem educar e preparar pessoas capazes de construir sua própria visão de mundo.


Os anões de Mântua é indicado para leitores iniciantes, mas explora, com muita criatividade, outras linguagens artísticas e gêneros textuais. Destaco o uso de personagens e ambiente da ópera Rigoletto de Verdi e alusões à mitologia grega. Uma história “escrita à moda dos contadores, com partes em versos e partes em prosa”. Podemos fazer muitas leituras de acordo com a idade ou experiência dos alunos, pois percebe-se claramente os problemas da sociedade atual: a exploração, a injustiça, a discriminação e a exclusão, a força que tem o povo quando unido e solidário.

Gramática da Fantasia é para professores, pais, psicólogos e todos aqueles que procuram um outro caminho para a educação, aquele que provoque uma revolução através da “imaginação e da criatividade, armas eficazes para a transformação do mundo e portanto de ameaça a uma ordem social conhecida e vantajosa para os setores mais poderosos da sociedade”, como bem disse Ruth Rocha ao apresentar a edição brasileira do livro em 1982. O livro, esclarece o autor, “não é uma teoria da imaginação infantil nem um arrolamento de receitas, mas uma proposta para ser colocada ao lado de tantas outras que procuram enriquecer com estímulos o ambiente onde crescem crianças”. Para ele, todos podem ser criativos e, ao citar Marta Fattori, lembra que “é criativa uma mente que trabalha, que sempre faz perguntas, que descobre problemas onde os outros encontram respostas satisfatórias, que é capaz de juízos autônomos e independentes, que recusa o codificado, que remanuseia objetos e conceitos sem se deixar inibir pelo conformismo”.Enfim, espera que possa “ser útil àqueles que sabem o valor de liberação que a palavra pode ter, não porque todos sejam artistas, mas porque ninguém é escravo”.

Tenho esse livro há vinte anos e sempre acreditei no poder da palavra porque cresci numa época em que não havia liberdade de expressão. Por isso, lia muito. Nunca me adaptei à educação tradicional porque sempre fui desatenta e desmemoriada! Pensei em fazer mestrado, mas desisti porque a bolsa não cobriria minhas despesas e hoje não me arrisco,não lembraria os nomes e idéias de ninguém, defendo as minhas, resultado de muita leitura e experiência com crianças e adolescentes. Nunca perdi muito tempo classificando palavras e analisando orações e precisei de coragem. Sempre procurei estimular a leitura e a escrita porque língua é para ser usada e literatura para ser lida. Formar leitores críticos, contadores de histórias e pessoas criativas são meus objetivos. Teria a certeza do dever cumprido se pudesse alcançá-los.

Recomendo a leitura de Uma História Atrapalhada, Editora Biruta, Um e 7, Editora Martins Fontes e O Livro dos Porquês, Editora Ática, talvez o mais conhecido aqui no Brasil.

Podem também visitar o site (em italiano) e ler aqui a história O menino de cristal.

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