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domingo, 8 de julho de 2007

Poemas Inconjuntos




Poemas Inconjuntos

(1913-1915)



Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

Alberto Caeiro


Retirado do meu livro de Fernando Pessoa, intitulado O Eu Profundo e os Outros Eus: seleção poética, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1978. Dessas preciosidades das quais não abrimos mão, Poemas Inconjuntos, os meus preferidos desse heterônimo de Fernando Pessoa, objetivo, natural, espontâneo. Neles verificamos um pensamento filosófico que inicialmente parece distanciar-se da prática. Aquela idéia que os simples mortais têm não somente dos filósofos como também dos pedagogos, sociólogos.
Fiz um trabalho simples com meus alunos sobre meio ambiente: mostrei várias revistas sobre ecologia, muitas fotos , frases poéticas de diversos escritores, artigo sobre Chico Mendes, li trechos de livros e distribuí uma folha de papel, dobraram, cortaram duas janelinhas. Na primeira, desenhariam o que viam:tiroteios, armas, mortes, caveirão. Na segunda, o que gostariam de ver: parquinhos, jogos, brincadeiras, mar, árvores e o nosso Cristo Redentor, agora uma das sete maravilhas do mundo moderno. Escreveram algumas frases sobre coisas simples que podemos fazer para vivermos melhor. São alunos moradores de favela com pouca expectativa de vida, mas que mantém a esperança. Ainda bem! Estamos lá para mostrar e criticar a realidade, porém propor mudanças.
Para ler todos os Poemas Inconjuntos achei esse site.
Fico com a alegria de ver meu Cristo vitorioso de braços abertos!


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